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ASSOCIAÇÃO A VERDADEIRA VIDA EM DEUS - BRASIL
Comunicado: 09/2017
Data: 30 de setembro de 2017
Meus irmãos e irmãs da AVVD,
GRUPOS DE ORAÇÃO - VERDADEIRO ALICERCE DA AVVD
Saudações em Cristo!
Estamos conscientes de que o Espírito Santo tem soprado em nossas direções, convidando-nos o tempo todo a servi-Lo e participar deste grande amor pela obra AVVD, um dos caminhos no plano da salvação da humanidade.
Precisamos vencer as barreiras que nos tentam impedir o acesso a esta grande graça. Vejo claramente que somos privilegiados em cairmos nas graças do Senhor, assim como foi desde o início do cristianismo.
Meus irmãos e irmãs, sabemos como somos ainda escravos de nossas vontades, onde a carne quase nos domina, porém temos de vencer esta etapa e será possível somente se rezarmos constantemente, como Jesus nos tem pedido na AVVD, “rezai 24h por dia”.
Não nos esqueçamos do evangelho em Mateus 22-14 quando diz: "Portanto, muitos são chamados, mas poucos os escolhidos!”... Aqui eu me pergunto: quem são os escolhidos? Esta é uma pergunta que devemos nos fazer constantemente e, para mim, "os escolhidos" são aqueles que correspondem ao chamado e que dão o seu "SIM" com firmeza sem hesitar diante das cruzes que virão.
Neste sentido, meus irmãos e irmãs, temos de quebrar as barreiras e as dificuldades que o inimigo de Deus nos tem colocado, precisamos fortalecer nossos grupos de oração. Nesta obra da AVVD os grupos de oração são a base para perseverarmos em nossa missão e é a fortaleza para cada um de nós. Todos somos testemunhas de que, quando relaxamos nossa participação nos grupos de oração, nossos trabalhos na AVVD começam a desmoronar e damos desculpas, esquecendo que foi o próprio Senhor que nos visitou e nos fez o convite para trabalharmos nesta obra.
Neste pensamento, exorto a todos a fortalecerem o seu grupo de oração, reavivem seus grupos de oração e formem novos grupos, só assim esta obra do Senhor se espalhará em todas as direções. Como é possível fazer isto? O próprio Jesus nos aponta o segredo para que tudo seja possível: a "UNIDADE". Devemos nos unir no amor de Deus, esquecendo as nossas diferenças e, principalmente, não apontar as diferenças uns dos outros. Precisamos louvar e agradecer todos os dias por estarmos do lado certo, por sermos agraciados pelo convite de trabalharmos nesta vinha do Senhor que é a obra AVVD.
Hoje somos um povo numeroso que segue esta espiritualidade da AVVD, mas somos poucos a formar os grupos de oração, conforme Jesus pede tanto em Seus escritos. Ele nos tem repetidamente alertado que, por meio dos grupos de oração, teremos graça diante de Deus e alcançaremos a salvação de muitas almas, pois Jesus suspira por estes irmãos que trocaram a felicidade eterna pelos prazeres deste mundo.
Hoje temos apenas 29 grupos de oração cadastrados, há alguns ainda que não o fizeram, mas a grande maioria da família AVVD ainda está sem participar de um grupo de oração. Desta forma, venho lembrá-los que será um ato concreto de amor e obediência para com o nosso Deus, que nos tem amado infinitamente em Sua misericórdia para com nossos pecados.
Para iniciarmos um grupo de oração, bastam duas pessoas e para fazer o cadastro entre em contato com:
Que Deus nos abençoe.
Leonardo Cesar Harger
Contato Nacional
Site oficial:
www.tlig.org/pg.html
Site AVVD Brasil:
www.avvdbrasil.org.br
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ASSOCIAÇÃO A VERDADEIRA VIDA EM DEUS - BRASIL
Comunicado: 08/2017
Data: 20 de setembro de 2017
Meus irmãos e irmãs da AVVD,
PRECISA-SE DE VOLUNTÁRIOS PARA TRADUÇÃO (INGLÊS)
TLIG - SITE OFICIAL
Estamos trabalhando no novo site em português de AVVD. Estamos precisando de voluntários para tradução de artigos existentes no site em inglês e ainda não traduzidos para o português.
Através do novo site continuaremos a manter a família de AVVD informada a respeito das atividades de Vassula pelo mundo na difusão das Mensagens de Jesus, as notícias sobre a unidade dos cristãos, a espiritualidade de AVVD, etc.
O trabalho compreende a tradução do inglês para o português. Considere que este apelo não é para um trabalho esporádico, é um convite para integrar-se a uma equipe que trabalhará nestas traduções.
Você que conhece e vive as Mensagens, domina bem o inglês e tem parte do seu tempo livre para oferecer, considere esta oportunidade: trabalhar para JESUS.
“ Eu trabalhei e cansei-me, muitas vezes sem dormir. Tive fome e sede, e muitas vezes estive esfomeado, pela falta de amor. Senti-Me no gelo, por falta de amor. Por isso, tu que lês os Meus Escritos, cuidarás agora de Mim? Cuidarás dos Meus cordeiros? Não digas: "Não me incomodeis, que eu não posso satisfazer este Vosso pedido!". Hoje, digo-te, a ti que lês as Minhas Mensagens, que as Minhas Bençãos se darão a quem quer que se ocupe das necessidades desta casa, uma vez que tudo aquilo que fazes, mesmo a mínima coisa, a fazes a Mim. Sê, pois, abençoada, tu que Me ouves e farás a Vontade de Meu Pai. Todo aquele que fizer frente às necessidades desta casa, será largamente recompensado por Meu Pai que está no Céu”. (AVVD - Agosto de 1990)
Interessados: Entrar em contato com João Inácio através do e-mail:
Que Deus nos abençoe.
Leonardo Cesar Harger
Contato Nacional
Site oficial:
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Site AVVD Brasil:
www.avvdbrasil.org.br
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ASSOCIAÇÃO A VERDADEIRA VIDA EM DEUS - BRASIL
Comunicado: 07/2017
Data: 28 de agosto de 2017
Meus irmãos e irmãs da AVVD,
Quatro vozes da santidade russa
Clara Cortazar 1Diretora do coro da igreja ortodoxa San Martín de Tours, do Padre Enrique Bikkesbakker
Buenos Aires, Argentina, 12 de julho 2017
2As inserções de [foto], ao longo do texto, correspondem às ilustrações apresentadas em powerpoint pela autora no decorrer da palestra e podem ser acompanhadas logo abaixo do texto da palestra.
áudio: Quatro vozes da santidade russa - clique para ouvir
Quatro santos, assim como são quatro os evangelistas, quatro os seres vivos que sustentam o Carro de Deus. Quatro santos, como quatro os pontos cardeais, quatro ventos, quatro estações. Este ‘quatro’ nos situa, ao mesmo tempo, em uma estrutura sólida e em uma encruzilhada.
Quatro vozes constituem a mais perfeita polifonia, a mais adaptada às quatro vozes naturais dos seres humanos. E estes quatro santos nos permitiram ouvir a mais pura sinfonia de vozes em um século dominado pelo ruído e pela estridência.
Os quatro eram russos, três deles nasceram em diferentes regiões desse vasto Império que atingiu o seu declínio no final do século XIX: Maria, em Riga, às margens do mar Báltico (hoje Letônia); Tikhon [Tírron]3Em russo: Тихон. A pronúncia é Tírron, apesar da grafia em português Tikhon. O dígrafo kh tem o som de um h aspirado ou o equivalente à pronúncia do rr em português, menos acentuada. Em espanhol a grafia é Tijon, seguindo a pronúncia real do nome. Em razão do áudio do texto, adotaremos a grafia da pronúncia: Tírron. em Pskov, não muito longe da fronteira da Estônia; João no sul, Kharkov (hoje Ucrânia). Isabel nasceu na Alemanha e se tornou russa por amor: amor por seu marido, em primeiro lugar; amor a esse povo que adotou como seu. Os quatro foram marcados com fogo pela Revolução que neste ano é lembrada pelo seu centenário, revolução bolchevique violentamente antirreligiosa e anticristã que, paradoxalmente, contribuiu para a glória e santidade da Igreja, não só da Rússia, mas universal. Porque estes santos são santos não porque tenham sido virtuosos e exemplares, mas na medida em que participaram da santidade de Deus (nada mais universal do que o próprio Deus) e, portanto, "a Luz dos homens – Deus - passa através deles, o poder de Deus passa através deles" (São João de São Francisco) e se comunica a todos, sem fazer distinção de países ou de pertenças eclesiásticas.
Dois homens e duas mulheres. Dois deles, Tírron e Isabel, uniram seus destinos ao da nação russa. Os outros dois, Maria e João, viveram no exílio a maior parte de sua vida e projetaram a santidade russa na Europa Ocidental, Ásia e América. Eram todos ortodoxos, mas pelas vicissitudes da história terminaram pertencendo a três Igrejas diferentes, um sinal de que a santidade não se atém a formalidades jurisdicionais.
Os quatro revelam tipos diferentes de santidade, mais ou menos tradicionais, mais ou menos em linha com o imaginário de santidade (ou o estereótipo de santidade) prevalecente nas Igrejas ortodoxas. Os quatro foram monges, mas em contextos muitos diferentes, com aspirações e realizações distintas.
Tírron e Isabel nasceram em 1864. Uns trinta anos mais velhos que Maria, nascida em 1891, e João, nascido em 1896, e, portanto, de uma geração anterior. É provável que Tírron e Isabel tenham se encontrado alguma vez. Já os mais jovens, muito provavelmente tiveram notícia dos mais velhos pela exposição pública de seus nomes; mas os dois, propriamente, perdidos na imensidão da diáspora, não souberam nada um do outro, pelo menos até 1950, quando Maria já havia "nascido no céu."
Vamos abordá-los, portanto, de dois em dois neste itinerário ao mesmo tempo luminoso e sofredor, divino e humano, como o Senhor na Cruz, itinerário que pretendo expor a vocês neste breve tempo que me foi destinado.
Tírron era filho de um presbítero rural e seguiu natural e normalmente a “carreira” eclesiástica. Era o que lhe impunham sua condição, sua família, os costumes da época. Muito rapidamente, suas condições intelectuais, seu caráter agradável e sua piedade sem falhas tornaram-se evidentes e ele subiu os degraus da hierarquia até chegar a bispo aos 32 anos, em 1897 . Até aí, uma existência linear e sem sobressaltos.
Isabel era uma bela moça, da mais elevada nobreza europeia. Da família Hesse-Darmstadt, neta da rainha Vitória da Inglaterra pelo lado materno, luterana e muito elegante. Conheceu o Grão-Duque Sergio Romanov, quarto filho de Alexandre II (o czar progressista) , alguns anos mais velho do que ela, e se apaixonaram loucamente. Seu casamento em São Petersburgo, em 1884, foi um acontecimento de repercussão midiática. Eram multidões aclamando, carros alegóricos e rosas brancas por toda parte, porque gostavam da noiva. Além disso, teve consequências políticas porque nessa festa se conheceram o futuro czar Nicolau II e a irmã mais nova de Isabel, Alexandra, que seria a Czarina dez anos depois.
Nem Isabel nem Sergio eram atraídos pela vida mundana, e viviam boa parte de seu tempo em uma residência rural. Isabel se interessa cada vez mais pelo idioma e pela cultura russa, tanto a folclórica quanto a acadêmica. Torna-se profunda conhecedora da arquitetura religiosa e da literatura russa do século XIX. Eles não têm filhos, mas adotam dois sobrinhos. Até aí, uma existência linear de qualquer filha da alta nobreza europeia.
Mas Isabel também se interessou pela ortodoxia e acabou confessando a fé ortodoxa no Sábado de Lázaro em 1892. seu marido chora de alegria por poder comungar junto dela na Quinta-feira Santa seguinte. Mas seu pai luterano ficou tão horrorizado com essa decisão que nunca mais teve contato com ela.
E aqui entramos numa fase indispensável para toda santidade: a das rupturas. Quem não odeia seu pai e sua mãe, sua esposa e seus filhos, seus irmãos e irmãs e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo – diz Jesus (Mt 10, 37; Lc 14, 25). Ainda que saibamos que a palavra "odiar" não tem no aramaico a conotação maligna que tem em nossas línguas, ainda que saibamos que isso significa bem mais uma distância, um desapego, uma separação, a fórmula é contundente.
A transmissão da santidade provoca em nós "separações", "discriminações". Manifestei o teu Nome aos que me deste tirando-os do mundo (Jo 17, 6) – diz Jesus ao Pai ... Por isso os santos são sempre de uma surpreendente originalidade e uma surpreendente liberdade.
____Cortazar. Santos 2005, p. 7-8
Não estão condicionados pelo seu meio ou por sua herança. Porque a pessoa única de cada um é forjada lentamente por força de rupturas, como o escultor faz aparecer a beleza de uma forma pela força de marteladas que tiram todo o supérfluo do bloco original. E é essa pessoa única o que Deus busca paciente e ansiosamente, esse “cara a cara” único com cada uma de suas criaturas.
Apenas alguns anos depois de Isabel, Tírron vive sua primeira grande ruptura. Em 1896, é nomeado bispo... do Alasca e Ilhas Aleutas! Primeiro contato com mundos até então desconhecidos: os inuítes ou esquimós, por um lado (que tinham sido evangelizados por São Inocente do Alasca, no século XIX); os norte-americanos, por outro. Sua sede ficava em São Francisco (cidade que devem recordar), mas mudou-se para Nova York porque as imigrações de ortodoxos de diversas igrejas eram muito mais numerosas no leste do que no oeste dos Estados Unidos. Tírron visita incansavelmente suas paróquias , até as mais distantes, embora exigissem dele verdadeiras façanhas de esforço físico pelas dificuldades de transporte e de tempo, devido às enormes distâncias e aos caminhos precários.
Mas, além dessa tarefa pastoral em contato direto com as pessoas, Tírron se lançou na tarefa hercúlea de dar uma estrutura mais sólida ao mosaico de comunidades ortodoxas instaladas em todo o vasto território dos Estados Unidos, do Alasca à Flórida. Constrói sua catedral de São Nicolau em Nova York ; abençoou também as paróquias do Patriarcado de Antioquia, que não tinham bispo no local, e participou da consagração do bispo Rafael (Hawawíni), da Igreja Ortodoxa de Antioquia, primeiro bispo ortodoxo consagrado em solo americano e futuro santo; estabeleceu relações muito sólidas com a Igreja Anglicana; fundou um seminário para a América do Norte, o Seminário São Tírron de Zadonsk; editou textos litúrgicos traduzidos para o inglês. Finalmente, convocou o Primeiro Concílio de toda a América, em Mayfield, em 1907 . Sua ação foi tão notável que ele foi nomeado cidadão emérito dos Estados Unidos.
O que acontecia com Isabel na Rússia? A situação política e social deteriorava-se. A guerra russo-japonesa foi desastrosa para a Rússia.
Isabel organiza ajuda para as vítimas. Nas próprias salas do Kremlin manda instalar mesas de trabalho, envia provisões para a frente de guerra, roupas, remédios e também Bíblias e ícones para os soldados. Em Moscou, organiza um hospital para os feridos, coordenado com um trem sanitário. Tem uma extraordinária capacidade de organização e sua imensa tarefa é praticamente a de um ministério.
____Cortazar, De Gloria en Gloria, p. 21
Mas a situação começa a ser desesperadora. Em janeiro de 1905, estoura o que se chama de "a primeira revolução russa", em São Petersburgo, e especialmente na guarnição de Kronstadt. Foi o que se chama de "Domingo sangrento". O exército abre fogo contra os manifestantes e a indignação popular é enorme. Apenas um mês depois, em Moscou, em 18 de fevereiro, Sérgio, o marido de Isabel, é destroçado por uma bomba lançada contra sua carruagem. Isabel chega imediatamente ao local do crime e, com suas próprias mãos, recolhe os pedaços do corpo de seu amado marido... Três dias depois, vai visitar na prisão o assassino que havia lançado a bomba ao grito de: Abaixo o Czar!, viva a Revolução!, mas o assassino não quis aceitar nem o perdão de Isabel nem o pedido de indulto que ela havia feito ao Czar. Ao sair da prisão, Isabel disse com tristeza: "Fracassei, mas... quem sabe?" Nesta ruptura dolorosíssima, atroz, Isabel começa o grande caminho de sua santidade. Se retira para viver em uma casa modesta e funda um hospital aonde vai todos os dias. Sua vida espiritual se aprofunda, muda sua visão do mundo...
Em 1907, Tírron deixa a América e volta para a Rússia: foi escolhido para ser bispo de Yaroslav. Mas já não é mais o mesmo Tírron. A imensa tarefa desenvolvida nos Estados Unidos o havia preparado para retornar à Rússia com uma visão nova da organização e da vida concreta da Igreja. Ele tinha vivido em uma sociedade diferente, em um mundo de pensamentos diferentes, com luzes e sombras diferentes. Sem que o soubesse, a nova ruptura o lançava para o alto.
Mas a Rússia também tinha mudado, e drasticamente. Apesar de algumas concessões tímidas do Czar, da convocação de um parlamento (a Duma) e do início de uma reforma agrária, a agitação social e política estava aumentando. A própria Igreja começou a reivindicar a autorização para convocar um Concílio e restaurar a organização tradicional da Igreja (que, como devem se lembrar, havia sido destruída por Pedro, o Grande, no século XVIII). Esse Concílio só pôde se reunir em 1917 ... Tírron, como membro do sínodo, participou dessas reivindicações.
Vamos, portanto, nos situar em 1908: Isabel se ocupa com sua casa e seu hospital; Tírron é bispo de Yaroslav. Maria ainda é uma adolescente. João tem 12 anos de idade. O ambiente social e intelectual é explosivo: a radicalização aumenta, tanto no campo filosófico como no político. A cultura russa, muito ocidentalizada ao longo dos séculos XVIII e XIX (e, portanto, influenciada pelo iluminismo, positivismo, darwinismo, marxismo) começa a reagir em alguns dos seus membros mais notórios. Vamos citar apenas três desses pensadores, filósofos, cientistas ou economistas: Nicolai Berdiaev (1874-1948), um dos pensadores existencialistas mais lúcidos de sua geração; Serguei Bulgakov (1871-1944), economista; Pavel Florensky (1882-1937), cientista brilhante. Todos eles professores universitários desencantados com o marxismo, tendo intuições místicas e, às vezes, buscas esotéricas, que, em seu caminho, descobrem a beleza do cristianismo ortodoxo. Fundam uma revista (Vekhi, Marcos), que produziu comoção: ali se declara abertamente que só o cristianismo tem o poder de converter a humanidade, que é o único caminho no mistério da vida. A influência desses espíritos iluminados, aparentemente efêmera (quase todos tiveram logo que se exilar ou morreram em campos de deportação), manteve acesa a chama incandescente do pensamento russo ao longo do deserto soviético.
Mas esses casos eram a minoria. A maioria dos intelectuais russos era fervorosamente socialista, pró-ocidental e marxista. Eles se reuniam em salões literários e filosóficos onde ferviam as ideias e faltavam fatos concretos. A um desses salões comparece Liza, a futura Maria, que já tinha 19 anos e havia se casado e divorciado . Um temperamento indomável, caótico, e de extraordinária criatividade: ela pinta, compõe poemas, borda, estuda Belas Artes, dá aula aos trabalhadores nas fábricas de São Petersburgo. É uma revolucionária fervorosa, mas também amiga dos grandes poetas simbolistas da época (Blok, Ivanov). Nada pressagiava seu futuro iminente.
Entretanto, para Isabel e Tírron, que já têm 46 anos, se pressagiam acontecimentos dramáticos.
Tudo está indo de mal a pior, e não há a menor ilusão de tempos melhores... Mantemos nervos fortes, e não pensamos em partir: viverei e morrerei aqui. - Carta de Isabel a um irmão, por volta de 1908.
____Cf. Cortazar, De Gloria... p. 23
Em 1908, Isabel decide tornar-se monja. Não em uma ordem, porque na ortodoxia não há ordens monásticas como no Ocidente, mas no estado monástico, que é selado pelos três votos clássicos de castidade, obediência e pobreza. A vocação social de Isabel e seu espírito de organização a levam a se instalar em Moscou onde, com a venda de todos os seus bens, compra um terreno para construir, em primeiro lugar, um mosteiro, de Marta e Maria, junto a uma igreja. Mas também um hospital de 22 camas, uma clínica médica para os pobres, um orfanato, uma escola para 75 meninas trabalhadoras, uma biblioteca de dois mil volumes, uma casa para tuberculosos, uma farmácia e uma cozinha onde se fazia todos os dias a sopa popular. Muitas mulheres a seguem nesta vocação: seis anos depois, já são 97 monjas. Não correspondem à imagem que os russos têm de um monge naquela época porque, desde Pedro o Grande, os mosteiros não têm direito ao trabalho social; correspondem melhor às instituições ocidentais de São Vicente de Paulo ou de outras ordens "hospitalares". Isabel é duramente criticada como "protestante", "violadora do espírito ortodoxo", "desconhecedora da grande tradição russa"... Isabel não se importa. Sonha até em restaurar o antigo diaconato feminino...
Em 1914 estoura a Primeira Guerra Mundial. A Rússia, aliada da França e da Sérvia, se sentiu compelida a participar. Foi a última terrível catástrofe antes da Revolução. O exército russo esgota na frente ocidental as poucas forças que lhe restam. Tanto Tírron quanto Isabel realizam esforços titânicos para ajudar os soldados e civis abandonados à própria sorte perto da frente com a Alemanha.
E, em fevereiro de 1917, ainda em plena guerra, estoura a revolução liberal. A enfraquecida monarquia é aniquilada, o Czar tem que abdicar, é constituído um governo socialista muito frágil e o país se afunda em uma anarquia sem precedentes. Nestas condições dramáticas, em 21 de junho, Tírron é eleito bispo de Moscou.
O esperado Concílio Pan-Russo finalmente se reúne em 15 de agosto de 1917, em meio ao caos generalizado e à luta sem quartel entre mencheviques e bolcheviques. Eram 250 clérigos e 314 leigos (mais leigos do que clérigos, e entre eles estava Eugraph Kovalevsky, pai do futuro Monsenhor Jean Kovalevsky). Não falarei desse Concílio extraordinário porque o padre Domingo Krpan nos contará mais amplamente sobre ele em agosto. Direi apenas que o Concílio decidiu restaurar o Patriarcado e, em 5 de novembro de 1917, na Catedral do Cristo Salvador, em meio ao estrondo da artilharia bolchevique, que bombardeava o Kremlin, Tírron foi eleito Patriarca de Moscou. "Seu Gólgota e sua glória estavam à sua espera", diz um de seus biógrafos.
A revolução de outubro havia triunfado, com Lênin à frente. E os ataques à Igreja começaram imediatamente, programados e realizados pelo mesmo Lênin que, muito otimista, pensava terminar, com um só golpe, a Igreja.
Em 4 de dezembro, todos os bens da Igreja foram confiscados; em 11 de dezembro, todas as escolas teológicas foram fechadas; em 18 de dezembro, o casamento civil tornou-se obrigatório; em 23 de janeiro de 1918, foi adotada uma legislação antirreligiosa.
____Zernov, p. 249-250
Antes do encerramento do Concílio, no verão de 1918, os membros receberam a notícia, horrorizados, do atroz assassinato de Vladimir, Metropolita de Kiev...
____Ware, p. 114
Em abril de 1918, a polícia prende Isabel em seu mosteiro, diante das irmãs... Última e decisiva ruptura. Com muita serenidade, lhes disse: "Não chorem, nos veremos no outro mundo", e lhes deu a bênção. Duas monjas foram com ela: Catalina e Bárbara. .... Foram levadas para os Urais, para Ecaterimburgo, onde já estava a família real... Na noite de 5 de julho, ela é levada, com sua companheira Bárbara e outros prisioneiros, para o poço de uma mina abandonada , e ali são jogados, a mais de quarenta metros de profundidade... O corpo de Isabel cai sobre uma rocha que se projeta a uns quinze metros de profundidade. Lá, começa a entoar o hino litúrgico dos Querubins, e as vozes de outros supliciados a seguem. À imagem dos Querubins, nestes mistérios cantamos o Três Vezes Santo à Trindade vivificante. Deixemos agora todas as preocupações do mundo para receber o Rei da Criação, escoltado por coros invisíveis de anjos. Aleluia, aleluia, aleluia. Os assassinos, indignados, lançam granadas e lenha em chama, até que os cantos se apagam.
Poucos dias depois, os camponeses das redondezas descem ao poço e encontram os cadáveres dos torturados. O corpo de Isabel está intacto, com os três dedos unidos em um último sinal da cruz...
____Cortazar. De Glória em glória, p. 31-32
(Só acrescentaremos, sem dar detalhes, que, depois de vicissitudes incríveis, esse corpo sempre intacto chegou a Jerusalém, à igreja russa do Monte das Oliveiras, onde Isabel queria ser enterrada e onde permanece.)
Os massacres, o caos e a fome espalhavam-se por toda a Rússia, também devastada pela guerra civil entre Vermelhos e Brancos. Lisa (a futura Maria), de 28 anos, e Miguel (o futuro João), de 23, têm que fugir da Rússia junto com sua família, como tiveram que fazer centenas de milhares de russos condenados à terrível provação do exílio. Foram para a Bulgária, Sérvia, Turquia, para onde pudessem... Lisa terminou em Paris com seu novo marido, Danilo Skobtsov, e seus três filhos. Miguel, tendo acabado de completar seus estudos de direito, entra na Academia de Teologia de Karlotsky e Bitol, na Sérvia. Rupturas dolorosas...
O novo patriarca, horrorizado com tudo o que acontece, multiplica seus apelos, seus pedidos de sensatez, suas sanções (inúteis, por sua vez) aos assassinos. Essa firmeza tranquila e inabalável contribuiu para aumentar seu prestígio.
No primeiro aniversário da Revolução, dirige-se ao Soviet dos Comissários do povo:
Os rios de sangue derramado de nossos irmãos, massacrados sem piedade por vossas ordens, clamam ao céu e nos obrigam a dizer-vos esta amarga palavra de verdade. ... Dividistes as pessoas em campos inimigos e as lançastes em uma guerra fratricida de uma violência sem precedentes. ... Exortamos-vos, a vós que usais vosso poder para perseguir o vosso próximo e exterminar os inocentes: ... libertai os prisioneiros, deixai de derramar sangue, violência, destruições, perseguições à fé... Dai ao povo a trégua que deseja e merece.
____13 de outubro de 1918
Mas, ao mesmo tempo, Tírron manifesta uma prudente abstenção no campo político. Nunca quis abençoar o exército "Branco", nunca quis entrar na luta estritamente política, porque considerava que todo governo (mesmo que seja sanguinário e persiga os cristãos) manifesta a vontade de Deus. Neste sentido, seguia o pensamento da Igreja primitiva, que rezava pelos Césares em meio às perseguições.
Sob a direção de Tírron, a Igreja se recusou a se identificar com o antigo regime ... Esta atitude, moralmente crítica e intransigente, mas politicamente leal, deu à Igreja uma autoridade excepcional.
____Meyendorff, p. 118
Mesmo assim, o Patriarca incomodava o governo soviético, principalmente porque tinha prestígio com o povo. Ele foi preso em 1922 e ninguém pensou que ele sairia vivo da prisão. As acusações eram terríveis: criminoso contrarrevolucionário, traidor; e a pena solicitada pelo promotor foi, naturalmente, a pena de morte. Mas, ao contrário de todas as expectativas, foi libertado um ano depois.
Saiu da prisão vestido apenas com um sobretudo militar, descalço, muito debilitado e enfraquecido: barba crescida, cabelos grisalhos e olhos afundados. E se encontrou com uma multidão de milhares e milhares de pessoas que o esperavam, bravamente, na praça em frente à prisão, e tinham acabado de ser informadas da resolução do governo. A polícia teve que fazer fila dupla para que Tírron pudesse chegar ao carro que iria transportá-lo, entre as aclamações e os prantos da multidão que caía de joelhos em sua passagem. O pobre ancião de 60 anos, que parecia de 80, não podia acreditar no que via, e chorava.
____Cortazar, De Gloria... p. 41
Nos dois anos que se seguiram, sofreu dois atentados fracassados e nasceu para o céu em 25 de março de 1925, dia da Anunciação. Foi dito – e continua sendo – que ele foi envenenado. Seu funeral foi acompanhado por uma multidão. Suas relíquias, que se acreditavam perdidas, foram encontradas no esconderijo de um mosteiro em fevereiro de 1992.
Enquanto isso, os emigrados russos em Paris, que são uma legião, vivem muitos deles em condições miseráveis. Danilo, o marido de Lisa, se torna taxista; ela mesma faz tarefas domésticas, peças de artesanato lindíssimas – porque é de uma extraordinária habilidade manual, especialmente em bordados. Mas a morte de sua filha mais nova, Anastácia, em 1926, deu o golpe decisivo para a conversão.
Senti que minha alma tinha vagueado por caminhos tortuosos toda a minha vida. Agora aspiro a uma estrada verdadeira, reta e clara... Nunca se inventou algo mais forte do que estas palavras: "Amai-vos uns aos outros". Mas é preciso ir até o fim.
Le sacrement du frère, p. 31
Os emigrados tentam nesse momento se organizar sob a direção tranquila e segura do Metropolita Eulógio Gueorguievsky. Lisa se separa de seu marido e está intensamente empenhada em ajudar seus compatriotas. Trabalha como secretária na Ação Cristã dos Estudantes Russos (ACER) cujos objetivos são, por um lado, denunciar as perseguições comunistas e, por outro, ajudar os russos exilados, tanto material como culturalmente. Inicia uma longa amizade e colaboração com Berdiaev , e especialmente com o padre Serguei Bulgakov, de quem já falamos, que se tornou um dos mais brilhantes teólogos ortodoxos de seu século. Ele fundou em Paris o Instituto São Sérgio , que existe até hoje, para a formação teológica e espiritual dos jovens russos, e torna-se para Lisa, cada vez mais empenhada em ajudar os necessitados, um pai espiritual.
Ele a estimula para um caminho cada vez mais árduo e exigente, e Lisa faz seus votos monásticos em 7 de março de 1932. Recebe o nome de Maria, de Santa Maria do Egito.
A situação, é preciso dizer, é rara. Lisa é divorciada duas vezes e tem dois filhos. Só por isso seu monasticismo está fora de qualquer esquema tradicional. Mas ela sabe que seu monasticismo é de outro tipo, liberado de suas formas exteriores conhecidas, mas igualmente exigente em sua essência: dar sua vida por Cristo e pelos irmãos.
____Cortazar, Santos ortodoxos, p. 50
Dirigindo-se a monges, lhes diz:
Abri vossas portas aos ladrões que não têm teto... Deixai entrar o mundo todo. Deixai vossos magníficos edifícios litúrgicos serem destruídos. Assumi o voto de pobreza com todo seu rigor devastador. Rejeitai todo conforto, ainda que monástico. Que vossos corações sejam purificados pelo fogo...
____Cortazar, Id, p. 51
Com uma audácia verdadeiramente evangélica e sem ter um centavo, decide fundar um Lar para pessoas sem teto. Consegue alugar uma casa em ruínas na Rua Lourmel (que se chama agora Maria Skobtsov) . Ela se instala em um canto, atrás da caldeira de água quente, e os ratos vêm visitá-la à noite através de um buraco que ela tenta fechar com um sapato.
Mendiga mercadorias e consegue toneladas de comida para muitos necessitados... Essa casa em ruínas, cheia de prostitutas, vagabundos, miseráveis, criminosos recém-saídos da prisão, se enche também com seus amigos teólogos, artistas, filósofos e pensadores. São dados cursos de gregoriano, de canto russo, de teologia e filosofia, de arte sacra.
Seu carisma de total abnegação é reconhecido por muitos. Mas também chovem as críticas: é descuidada, caótica, fuma... Não fica bem para uma monja! E, para culminar, ela mora com seu filho, Yuri, um adolescente. Duas novas monjas vêm morar com ela, as madres Eudóxia e Blandina, mas estas não conseguem aguentar nem o seu caráter explosivo nem a exigência sobre-humana que lhe permite passar dias inteiros sem comer nem dormir para ajudar os necessitados. Em seus poucos momentos livres, ela borda ícones ou escreve poemas que a tornarão uma das grandes poetisas russas do século XX.
Por volta de 1938, o padre Dimítri Klepinin e sua família vieram se instalar no abrigo da rua Lourmel. Entre Madre Maria e esta família surgiu imediatamente uma ligação espontânea, que tornou o abrigo da rua Lourmel um verdadeiro paraíso. Mas a França foi invadida pelos nazistas um ano depois, em junho de 1940... Um dos benfeitores mais abnegados do Lar, um judeu, Elias Bunakov-Fondaminski, foi preso poucos dias depois.
O Lar da rua Lourmel mudou de "rumo". Agora, são principalmente os judeus os que chegam, os que devem ser escondidos, a quem se devem fornecer documentos falsos e falsos certificados de batismo. O Lar está lotado... e ameaçado. Em 1943, a Gestapo prende primeiro Yuri, o filho de Madre Maria; imediatamente depois, o padre Dimítri; ambos morrerão no campo de extermínio de Dora no ano seguinte. Madre Maria é presa, por sua vez, e deportada para Ravensbrück. Lá, ela faz o esboço de um ícone, no qual a Mãe de Deus segura seu filho crucificado. Ela é enviada para a câmara de gás em 30 de março de 1945, algumas semanas antes de os aliados libertarem o campo.
Enquanto isso, na Sérvia, está surgindo outro santo, muito diferente. O jovem João continua sua carreira eclesiástica sem sobressaltos, em Karlotsky e Bitol. Baixinho, gago, feio e desorganizado. .... É professor no seminário de Bitol e lá começa a se forjar sua fama de santidade. Nunca dorme, comunga todos os dias (mesmo que a Divina Liturgia não seja celebrada: duas práticas ignoradas na Igreja Ortodoxa 4Para a abstinência do sono seguiu o exemplo de Meletios de Kharkov, bispo de sua cidade natal, + 1841.) e adota a oração perpétua. O Metropolita Antônio Khrapovitsky, seu pai espiritual, diz: "Nós nos pomos a orar, ele está sempre em oração". Em 1934, João é consagrado bispo e é enviado a... Xangai!!!! Uma nova ruptura depois da ruptura do exílio.
Em Xangai há uma grande colônia russa, vivendo em condições de pobreza extrema. É aí que seus dons milagrosos começam a se manifestar.
Chamado no meio da noite à cabeceira de uma criança moribunda, ele entra, vai direto ao altar dos ícones, prostra-se diante deles e então, ao se levantar, declara aos pais que a criança vai ficar curada e sai sem ter mesmo olhado para a criança. Na manhã seguinte, a criança está curada,
____Kovalevsky, citado por Cortazar, De Gloria ... p. 48
Todas as manhãs e todas as tardes celebra os ofícios na Catedral, e celebra a Divina Liturgia todos os dias, ancorado na oração contínua. Várias vezes, durante a celebração, se produziram fenômenos luminosos que todo mundo pôde constatar, sem que ele prestasse a menor atenção neles. Visita uma infinidade de pacientes, a quem cura, consola, reconforta. Era conhecido em todos os hospitais e centros psiquiátricos de Xangai. Funda um orfanato para filhos de russos ou de chineses, onde abriga mais de 400 crianças. Mas com a chegada dos comunistas, em 1949, eles têm que escapar de Xangai. São várias centenas de pessoas, entre elas as 400 crianças do orfanato. Se estabelecem como refugiados nas Filipinas, em acampamentos de uma terrível precariedade, e só muitos meses depois conseguem embarcar para os Estados Unidos. Os filipinos disseram: "Agora que o homenzinho se foi, vamos ter problemas. O homenzinho abençoa seu acampamento nas quatro direções, todas as noites". E, de fato, pouco depois da partida, um terrível tufão destruiu o acampamento já abandonado.
À sua chegada aos Estados Unidos, as autoridades os retêm no porto e não querem recebê-los. Consegue um prazo de três dias e vai imediatamente a Washington para encontrar as pessoas capazes de ajudá-lo. Como ninguém o recebe, ele se senta nos degraus do Palácio do Congresso e deixa passarem as horas, as noites, os dias, com o seu rosário na mão. Acaba sendo chamado e ouvido, e consegue, para todos os seus, o direito de asilo nos Estados Unidos...
____Kovalevsky, p. 193
Mas uma nova ruptura se preparava.
Em 1951, ele é nomeado arcebispo de Bruxelas e da Europa Ocidental. Durante sua estadia na Europa, reside com frequência na região de Paris, dedicando seu tempo à fundação russa de Ste. Geneviève des Bois e Versalhes, aonde vai de trem. E não é raro que os passageiros da estação de Montparnasse tenham o espetáculo pouco banal deste monge pequeno e feio, insolitamente trajado, sempre descalço, instalado na sala de espera com seus ícones dispostos em círculo ao seu redor, e escrevendo, imperturbável, em uma máquina de escrever portátil. Claro que não passava despercebido, mas ele estava muito além do "respeito humano". Sua reputação de santidade já havia ultrapassado os ambientes ortodoxos, e sabe-se que um padre católico em Paris contou um dia a um de seus paroquianos: "Você pede provas, você diz que hoje não há mais milagres nem santos. Por que irei lhe dar provas teóricas, quando hoje mesmo anda pelas ruas de Paris um santo: São João Descalço?"
____Kovalevsky, p.195
Ele não dorme há anos e vive em uma cela sem cama, com pacotes de cartas importantes cuidadosamente amarrados com cordas e arrumados pelo chão ao redor de sua mesa. Para ele, o dia de 24 horas são 24 horas de oração, e com toda a naturalidade dá entrevistas à meia-noite ou às três da manhã.
____Bourne, p. 260
Viveu na China como um chinês. Agora vivia na Europa Ocidental como um francês ou um alemão. Celebrava a Liturgia em várias línguas, como antes já havia feito em chinês e como depois faria em inglês.
____Mileant, p. 13
A alma de João, profundamente russa, se expande para as dimensões do universo.
É em suas mãos – providencialmente e por um tempo - que seria confiado o destino da Igreja Ortodoxa da França, iniciada 20 anos antes e dirigida pelo Padre Eugraph Kovalevsky, Igreja cuja vocação era e é fazer surgir a fé ortodoxa da Igreja indivisa nos países ocidentais. João estuda a situação da Igreja Ortodoxa da França, estuda o rito galicano que esta celebra, e em 8 de maio de 1960 celebra o rito de acordo com São Germano, na igreja Sto. Irineu de Paris. E diz em sua homilia:
O Cristo ressuscitado enviou os Apóstolos a pregar por todos os países. A Igreja de Cristo não foi fundada para um único povo, para um país em particular, mas todos os países são chamados à fé do Deus verdadeiro. ... Assim, desde os tempos apostólicos, na Gália – a França atual - foi pregada a fé ortodoxa do Cristo. À Igreja Ortodoxa pertencem São Martinho de Tours, o grande Cassiano, fundador da abadia de Marselha onde, durante muitos anos, deu exemplo de vida ascética; o próprio S. Germano de Paris, Santa Genoveva e uma multidão de outros santos. Por isso, a fé ortodoxa não é para o povo francês a fé de um povo estrangeiro. Esta fé é a sua, confessada aqui, na França, desde os tempos antigos pelos antepassados; é a fé de seus pais... Que a bênção divina seja sobre a França ortodoxa".
____Homilia de 8 de maio de 1960. Em: Bourne, vol. II, p. 276
Sua dedicação à Igreja da França não cessou até o último momento de sua vida. Mesmo quando teve que abandonar a Europa e retornar a São Francisco, nos Estados Unidos, em 1962, por ordem de suas autoridades eclesiásticas (o Sínodo da Igreja Russa no exílio, ROCOR), o então Arcebispo João protegeu, orientou e confirmou essa Igreja nascente. Contra toda a oposição, consegue consagrar seu primeiro bispo, Monsenhor Jean de Saint Denis , em São Francisco, em 11 de novembro de 1964.
Assim, João Maximovich torna-se o elo histórico indispensável para o florescimento das Igrejas Ortodoxas no Ocidente. É nosso dever enfatizar esse aspecto de sua missão, uma vez que nos interessa diretamente e pode não ser percebido pelos fiéis russos com a mesma nitidez e a mesma urgência. A clarividência do arcebispo se manifestou não apenas em circunstâncias particulares, não apenas na vida de algumas pessoas, mas também no destino dos povos. Sua caridade não só foi mostrada aos doentes e aos moribundos, mas às comunidades eclesiais que precisavam de orientação e proteção. Suas atitudes abriram um caminho universal para a ortodoxia no momento em que esta sofria a mais dolorosa perseguição de sua história, e mostraram o sentido providencial do exílio de milhões de russos, ucranianos, romenos... Desse sofrimento surgiria uma Igreja Ortodoxa múltipla e una, enraizada na santidade de alguns homens e mulheres excepcionais, entre os quais o arcebispo João brilhou com uma luz particular.
____Cortazar, p. 53
Morreu em Seattle, durante uma viagem pastoral, em 2 de julho de 1966. Seu corpo, intacto, está exposto à veneração dos fiéis na Catedral da Mãe de Deus, Alegria de Todos os Aflitos, em São Francisco, que ele contribuiu para construir.
Sua proteção e presença também sobrevoam a cidade de Buenos Aires. Há relíquias dele na Igreja Ortodoxa da Trindade, do Parque Lezama, e essa pequena comunidade argentina, a nossa, o venera com fervor.
a Glorificação
Há inúmeros santos que não foram "canonizados", como dizemos no Ocidente. Eles são desconhecidos para nós, que vivemos do outro lado do véu.
O reino do Cristo nos Céus ficaria cheio de tristeza e muito reduzido se tivesse apenas os santos cujos nomes estão inscritos no calendário.
____Nicolay Velimirovich, citado por Cortazar, Santos, p. 11
O ato de "glorificação" é um testemunho do Espírito que inspira a Igreja e lhe abre os olhos para os portadores do Espírito. ... Mas é preciso ressaltar que a canonização não faz um santo nem decide o seu destino eterno. Pela canonização, a Igreja terrena não pretende conferir ao santo uma certa parte da glória supraterrestre. Na verdade, trata-se de um ato não voltado para a Igreja celestial, mas para a Igreja terrestre, para convidá-la a venerar a pessoa canonizada nos moldes e de acordo com as formas tradicionais do culto público.
____Bobrinskoy, citado por Cortazar, Santos, p. 9
Essas quatro vozes da santidade russa são as do martírio, isto é, as do testemunho, cumprido até o fim com a heroica fidelidade à missão que Deus lhes propôs. Testemunho de quê? Do amor de Deus para com os homens e da caminhada lenta dos homens para seu destino de deificação.
Esta santidade já foi dada aos cristãos, mas também está chegando. A santificação não pode se deter porque nunca é definitivamente adquirida. É um dinamismo que não pode deixar de se manifestar cada vez mais intensamente até o Retorno do Senhor.
____Ménestret, p. 29.
E essas quatro vozes da santidade russa nos desafiam, a nós argentinos do extremo Ocidente, tão queixosos e tão imaturos. E por elas Deus nos pede hoje que honremos o sofrimento e a glória inimagináveis de uma Igreja que, no século XX, doou para a Igreja universal mais mártires do que teve a Igreja cristã nos vinte séculos anteriores.
A seguir, ilustrações apresentadas em powerpoint pela palestrante no decorrer da exposição. Elas podem ser identificadas no texto acima, pois aparecem na sequência da leitura; e posicionando o cursor do "mouse" sobre a imagem no texto é possível ver a numeração da imagem e texto explicativo. Clicando-se sobre a imagem, pode-se vê-la ampliada em toda tela.
Quatro Vozes da Santidade Russa
Clara Cortazar
Buenos Aires, Argentina
12 de julho de 2017
Ilustrações apresentadas em Powerpoint
Fim das Ilustrações apresentadas em Powerpoint
Que Deus nos abençoe.
Leonardo Cesar Harger
Contato Nacional
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