Duas perguntas emergem do nosso título. O que pode nos ajudar em nossa busca pelo 'Amor no Espírito', que nos leva à unidade, e o que a dificulta ou impede?
Neste retiro, trouxemos nosso ser fragmentado, sofrendo daquilo que São Paulo chamou de nossa dicotomia de espírito, entre o nosso novo e velho eu; o espírito e a carne. Poderíamos até chamar a esta batalha de nossa versão pessoal de um transtorno metafísico de personalidade múltipla, já que muitas vezes temos mais do que só duas versões de nós mesmos lutando para se sobrepor para definir quem somos e como vivemos - em Cristo ou fora de Cristo.
Como indivíduos, então, estamos fragmentados. Assim, não surpreende o fato de que a Igreja, que é constituída de pessoas fragmentadas, também esteja fragmentada.
Cientes dessas sérias rupturas em nossas próprias almas e na Igreja, apresentamos nossa fragmentação pessoal e coletiva diante de Deus, pedindo a cura.
A segmentação da Igreja é um escândalo que há muito tempo tentamos sanar. Mas considerava-se que o remédio estivesse nas mãos dos teólogos ecumênicos profissionais. Seu histórico de sucesso tem sido muito limitado.
Essa cura quase nunca é obtida nos mesmos termos da fragmentação. A história nunca pode ser desfeita. Os comitês e sínodos não possuem grande antídoto contra os problemas de comunicação, intenções frustradas e mal-entendidos. Também não contêm o discernimento suficiente para identificar a ação do maligno, quando ele se prepara para jogar uma pessoa contra a outra, um grupo contra o outro, incitando o interesse sectário.
No entanto, Deus não nos abandona à fragmentação. Ele nos envia o seu Espírito Santo e, através do carisma da profecia, fala aos corações divididos e endurecidos, chamando-nos ao arrependimento e aquecendo-nos com o perdão que precisamos para que nossas próprias almas possam ser generosas umas com as outras.
É por isso que estamos aqui. Através das mensagens, a Santíssima Trindade está atraindo cada um de nós para uma intimidade cada vez mais profunda no Amor Divino que viemos celebrar.
Mas este Amor não é só para aquecer o coração ou acalmar a alma. O amor de Deus é fogo. Fogo para aquecer, e fogo também para purgar.
“Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hebreus 10, 31)
Há um privilégio em ser chamado para este movimento de renovação, mas ele não vem sem dor.
É só a nossa própria segmentação que provoca as fraturas na Igreja? Ah, se fosse tão simples... De fato nós prosseguimos com as campanhas cismáticas de nossos antepassados nacionais e espirituais. Nas mensagens, o Senhor nos repreende por nossa complacência em perpetuar o pecado de nossos antepassados.
Em 13 de novembro de 2001, falando primeiro para a Igreja como um todo, o Senhor nos convida a pôr fim à complacência com que vivemos em nossas antipatias segmentadas e lembra que nossas divisões carregam o fedor do pecado. Devemos compartilhar de seu desgosto:
Os pastores estão divididos, opostos uns aos outros. Eles vivem numa desordem ou confusão espiritual, e se alguns levam ainda a Minha Cruz de boa vontade e com zelo pela Minha Casa, esses também são perseguidos por tais transgressores. Acaso poderão estes dizer que eles Me obedecem pontualmente? Se respondem"sim", então, explicai-Me a vossa divisão. A divisão é um pecado. Seguramente, vós conheceis o significado de: "todo reino dividido contra si mesmo é votado à devastação, e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma poderá manter-se de pé". Falta-lhes o sinal distintivo da fé: já não existe neles o amor...
Alguns de nós somos tentados a nos defender, alegando que temos a mente aberta, o coração caloroso e generoso e tendências inclusivas. Mas o Senhor nos lembra que nós carregamos a bagagem institucional e confessional de nossos ancestrais.
“Mesmo que esta divisão não tenha vindo directamente deles, mas sim de seus antepassados”
Muitas das identidades em que estamos inseridos perpetuam os conflitos de nossos antepassados. Escutamos a repreensão de São Paulo quando ele nos adverte sobre nossa disposição em nos deixar levar pelo partidarismo e pelo tribalismo:
Irmãos, não pude falar a vocês como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei a vocês leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois, quando alguém diz: "Eu sou de Paulo" e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos? Afinal, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o Senhor atribuiu a cada um. (1 Cor 3, 1-5)
Saímos de Paulo e Apolo; mas caímos em Martinho Lutero e Inácio de Loyola.
Para muitíssimas pessoas, a Igreja é vista "na carne"; uma organização com diversas seções em competição. Estamos aqui para que o Espírito abra os nossos olhos - para que vejamos no outro não o padrão de uma história de conflitos, mas a presença de Jesus. Quando percebemos a Jesus uns nos outros, não podemos deixar de nos apaixonar espiritualmente um pelo outro, e nesse ponto a cura e a unidade da Igreja começam.
O arrependimento é a chave para esse caminho da carne até o Espírito.
“enviei-vos os Meus anjos, de pés descalços, para inflamar, com a Minha Palavra, os vossos corações, geração; enviei-O a avisar-vos de que, a menos que vos arrependêsseis, que rezásseis e fizésseis reparação pelos vossos pecados, emendando as vossas vidas, e a não ser que estimásseis o Meu Santo Sacramento e vivêsseis santamente, unidos, colocando-Me como um selo, no vosso coração, atraireis sobre vós, pela vossa própria falta, todos os males da terra.” (13 de novembro de 2001)
Não há teoria da metafísica estática. Ou mantemos o mal à distância com nossa pureza e humildade de coração; ou voltamos à raiva e acusação cismática, ao canalizarmos energias demoníacas contra os outros.
Nossa defesa contra o mal está em nossa fome de humildade e nossa disposição de sermos flexíveis nas mãos do oleiro que nos criou e que busca sempre nos refazer ainda mais à Sua imagem.
Encontramos esse Amor Divino que nos une quando mudamos de rumo e imitamos a São Paulo, seja tratando o outro como melhor do que nós, seja em reconhecimento aos carismas que Deus generosamente deu a diferentes partes da Igreja. Nenhum de nós pode ser a Igreja completa, todo o Corpo de Cristo, sem a presença e os carismas do outro.
E essa unidade divina é conhecida mais profundamente quando nos reunimos em torno do altar.
“a Minha Casa foi desleixada. Cada casa é paga por alguém; Eu comprei a Minha Casa com o Meu Próprio Sangue. Por que razão ninguém ouviu a Minha súplica, quando pedi ao Pai que fôsseis um? Hoje, se tivésseis correspondido ao Meu apelo, mostrando obediência, vós partilharíeis uma só Taça ao redor de um só altar.” (10 de dezembro de 2001)
O sinal de nossa humildade, o ato de reparação, é a reunião em torno de um só altar para compartilhar um só cálice.
Não é por acaso que a Santíssima Trindade são Três pessoas integradas numa só unidade. E a Igreja deveria refletir a Santíssima Trindade, mas está rompida pelo pecado.
Na Trindade, encontramos essa hierarquia invertida do amor. Uma hierarquia na qual o Pai é nossa meta e nosso destino, mas o caminho para a Sua presença só se faz possível com Cristo carregando nossos pecados na cruz. A aproximação da alma à presença do Pai é possibilitada apenas pelo poder do Espírito Santo, que é o chão sob nossos pés, bem como o fogo em nosso coração e o Amigo ao nosso lado, ao nos aproximarmos do trono do Pai.
Cada aspecto da Trindade tem seu reflexo na vida da Igreja. A tragédia para nós é que nosso testemunho é afetado por nossa segmentação e, assim, apresentamos uma Trindade fragmentada.
O renomado teólogo da unidade Lesslie Newbigin observou que, desde o início do século 20, há três divisões na Igreja mundial. Estamos divididos conforme as linhas das pessoas da Trindade. Uma Igreja do Pai, uma Igreja do Filho e uma Igreja do Espírito.
Parece que os católicos e ortodoxos refletem algo do Pai; os protestantes, do Filho; e os pentecostais, do Espírito.
O Pai é representado pelos católicos e ortodoxos, onde a Igreja ecoa com a majestade e o esplendor da grandeza. Encontramos a magnificência e o poder de Sua presença, diante da Qual nos derretermos em santo temor. Curvamo-nos diante da glória do Pai transcendente na liturgia, arquitetura e espiritualidade. Cristo é representado como o Pantocrator, o Cristo do juízo final; o rei cósmico.
O rosto protestante da Igreja geralmente reflete o poder e a clareza da Palavra de Deus, o Logos. O encontro com o carpinteiro que atingiu o mundo adormecido com o poder da Palavra. O servo sofredor rumo à humilhação e crucifixão, dispersando demônios e fariseus em Seu caminho. O Bom Pastor que derrete o coração humano através de parábolas e fala com poder ilimitado através da Bíblia.
A parte pentecostal da Igreja emerge com seu foco no poder e nos dons, fruto e dinamismo do Espírito Santo.
Temos três faces da divindade, mas, em vez de refletir a profunda unidade espiritual e existencial da divindade, vivemos e apresentamos uma divisão profunda, na qual temos dificuldade de reconhecer e respeitar uns aos outros. Temos dificuldade para reconhecer as faces de Deus e os carismas que Ele distribuiu por Sua Igreja. Isso encobre nosso desejo e dever de buscar a reconciliação e a cura.
E o que, em particular, impede nossa experiência de reconciliação e unidade, além de nosso orgulho maculado, os mal-entendidos e a falta de integração interna e externa?
Há uma batalha espiritual e metafísica por vencer.
Encontrar nossa segurança e nossa felicidade na companhia de nosso Criador não é só uma questão de querer. Há obstáculos no caminho.
As Mensagens nos mostram muito claramente que um dos principais obstáculos espirituais que desencaminham a Igreja e a nós é a oposição feita por Satanás, e uma de suas expressões mais eficazes é o espírito do racionalismo.
O racionalismo atrai especialmente os inteligentes e competentes. Ele nos dá a ilusão de que estamos mentalmente no controle, e adoramos estar no controle. Mas é uma forma intelectual de materialismo. Ele obscurece a realidade do mundo espiritual e a geografia do Reino dos Céus como ele realmente é. Deturpa as verdades do Reino de uma forma diferente.
As Mensagens são contundentes em alertar para a estratégia de nosso inimigo e denunciá-la.
“Geração, no teu sono, foste capturada e hipnotizada pelo Meu Inimigo. Rodeada pelas suas mentiras, foste hipnotizada, e a tua memória, caindo no esquecimento, afundou-se na escuridão” (22 de julho de 1994)
Em vez de se espelharem nas Escrituras e na tradição para medir até que ponto nos rendemos à cultura circundante, muitos na Igreja racionalizaram os anseios da sociedade e começaram a se conformar com a forma e as prioridades de nossa cultura decadente.
Quantos clérigos, na busca de aprovação intelectual e cultural, se vergaram à procura de aceitação em termos de orgulho e aprovação intelectual secular, em vez de permanecerem fiéis a Deus? Quantos engoliram a teologia racionalizada que dominou seminários e universidades nos últimos 100 anos, despojando o milagroso e o metafísico e rebaixando a fé à espiritualidade e ação social?
Somos alertados pelas mensagens:
“Foi dito que, no vosso tempo, só uma pequena parte dos Meus servidores Me permaneceria fiel, pregando o Evangelho como ele deve ser pregado e que muitos viriam a cair no racionalismo, atraiçoando-Me, com perfídia. Este racionalismo fez da Minha Igreja um deserto, reduzindo-A a um monte de ruínas, em cujos meandros se acumularam as serpentes.
(…) Os fumos de Satanás são semelhantes ao nevoeiro destes tempos, que penetra através dos buracos das fechaduras e por entre as dobradiças! Uma vez que os seus fumos são mortais, peço solenemente que redobreis os vossos sacrifícios e as vossas orações. Devem fazer-se enormes reparações por aqueles que Me amam. Satanás, no seu furor, tem reduplicado, este ano, as suas obras contra a Minha Igreja.
Minha menina, chamo cada um de vós, procuro cada um de vós. Deixai que Eu penetre nos vossos corações e cure cada um de vós.” (27 de setembro de 1988)
Sabemos que Satanás, com seus duplos atributos de 'divisor' e 'acusador', devastou a Igreja por fora e por dentro.
Mas Nosso Senhor é claro em Sua análise daquilo que enfrentamos em Seu favor:
“A Apostasia aliou-se ao racionalismo, de modo a fazer nascer o ateísmo.” (7 de julho de 1992)
“O Racionalismo e o Modernismo são os principais inimigos da Minha Igreja, porque ambos conduzem ao ateísmo, ambos querem devorar o mundo inteiro; Eu, porém, Minha filha, atearei o Meu Fogo sobre esses renegados de modo que, quando as escamas lhes cairem dos olhos, possam ver a grande desordem que eles provocaram e a opressão que causaram aos Nossos Dois Corações.” (31 de janeiro de 1992)
E o remédio para sobrepujar nosso inimigo:
“Ensinei-te o que significa A Verdadeira Vida em Mim. Reza frequentemente, reza diariamente o Santo Rosário, porque esta pequena cadeia será A Cadeia pela qual Satanás será encadeado e vencido! Dou-te a Minha Paz, não duvides nunca. Nós?” (16 de novembro de 1988)
“Eu vos digo: Rezai continuamente, para santificardes a vossa alma e a dos outros. Rezai com o coração, para afugentardes o demônio. Sede unidos a Mim e nenhuma coisa nem pessoa alguma se interporá entre vós e Mim. Chegou o tempo em que não deveis mais hesitar.” (7 de julho de 1992)
A que somos chamados? A uma profunda unidade na Divindade. Evagrius Ponticus descreveu, há muito tempo, o caminho a que somos chamados, de purgação, iluminação e união. Os dois primeiros não são difíceis de descrever, mas a união é mais difícil. Para isso, recorremos às Mensagens.
Somos incentivados a uma vida nova, fome nova e peregrinação renovada pelas Mensagens de nosso Pai, que enviou Seu Filho para nos encontrar e libertar e nos levar para casa pelo poder do Seu Espírito. Vamos dedicar nossa atenção e nosso coração às Mensagens da A Verdadeira Vida em Deus, que nos recordam a que somos chamados na experiência do Amor Divino, que nos vincula em unidade na Divindade.
“Agora, vinde, todos quantos Me desejardes, e reuni-vos ao Meu redor; vinde ouvir esta Ode, que vem dos reservatórios do Céu...
Bendita aquela que Me abraça, que Eu Mesmo a fortificarei na nossa união... Hoje, Eu saio do mais alto dos Céus para vos lembrar a tornar-vos um Comigo. Eu dou-Me a vós, para que vós descubrais a Minha Grandeza e a Minha Divindade. É a união mística entre o Criador e a Sua criatura. O Esposo, que é também vosso Rei, convida-vos a desposá-Lo. Precisamente como um esposo que sai do seu pavilhão de ouro, resplandecente de graça como um sol que resplandece na sua luz, Eu saio do Céu, para vos convidar a entrar no Aposento de ouro de Meu Coração, que é Meu Seio e Meu Amor.
Tu que jamais compreendeste as profundezas de meu Amor Divino, nem que meu Coração é o teu leito nupcial, vem e aprende a Minha linguagem... Eu convido a tua delicada alma a gozar de Minha doçura; o Meu desejo - e Eu desejaria acrescentar, a Minha sede - é salvar-vos e elevar-vos, para vos fazer subir ao Céu, a que vós pertenceis.” (3 de fevereiro de 2003)
Bishop Gavin Ashenden